quinta-feira, 26 de setembro de 2013

CARTA DE UM LEITOR AO COMPLETAR 100 VIAGENS MUNDO AFORA

 
De Montaigne:
"Costumo responder, normalmente, a quem me pergunta a razão das minhas viagens: que sei muito bem daquilo que fujo, e não aquilo que procuro." 

Concordo.

Sou um dos primeiros leitores deste blog e acompanhei sua autora em todas as viagens, mas juro, nunca palpitei, fosse sobre os textos (magistral e simplesmente escritos), fosse para sentir as impressões da minha eterna companheira de aventuras e confrontá-las com minhas silentes percepções.

Sempre quis escrever um livro, diário, enfim, algo que registrasse os momentos, perrengues, alegrias, sustos, prazeres que vivemos nessas andanças e que as viagens trazem em si. Mas não me acho pronto, pois quanto mais viajo, aumenta minha impressão de que pouco conheço desse mundão de meu Deus. E por continuar pensando assim, limito-me a estas poucas palavras. Adiarei o livro, retardarei o diário, viajarei apenas.

Neste ano, à beira dos 40 anos de idade, completei 100 viagens ao exterior, mas cerca da metade a trabalho. Não que estas tenham sido em vão, apenas as outras dezenas realizadas a passeio foram bem mais prazerosas, pois fugimos da rotina, como Montaigne! 

Que saudades da Varig e do respeito que ela nutria no exterior, de seus MD-11 rapidíssimos e confortáveis, dos 767s da Transbrasil, da cordialidade e sorriso das tripulações, do espaço entre poltronas, do comportamento dos passageiros, do conforto dos aeroportos, das refeições à bordo (até feijoada era servida pela Transbrasil aos sábados), dos travesseiros, cobertores, das lojas das companhias brasileiras nas avenidas principais de Paris, Londres, Nova Iorque. Que saudade até dos bilhetes impressos carbonados! Que saudade do Comandante Rolim Amaro, que deve chorar o dia inteiro onde quer que esteja ao ver como a Tam nos trata e que o 0800 do Fale com o Presidente é mais difícil do que falar com o presidente americano...

Amigos costumam me perguntar as cidades mais belas aos meus olhos, os lugares mais diferentes que visitei e também dicas e conselhos quando vão se divertir por aí... Costumo dizer, para desolação de muitos, que todo lugar é igual, salvo Paris e Veneza. Realmente, para mim, o homem não fez nada similar. Napoleão III mandou e o barão de Hausmmann cumpriu à risca o dever de casa. Fez Paris para humilhar o mundo. Por certo, Deus se encarregou de fazer o Rio para zombar dos homens e mostrar quem fez o mundo, cidade maravilhosa, bela, cheia de encantos mil, despojada de caprichos e que transborda natureza no seu limite maior, mas encontra muita similitude na Cidade do Cabo, África do Sul. Se Ele é brasileiro, fez, em Sua imensa misericórdia, duas obras primas e bem parecidas, uma aqui e outra no pobre continente africano. 

Mas também há momentos em que sinto todos os lugares diferentes uns dos outros e por isso, acredito que essa centena de viagens realizadas tende a aumentar! É a busca eterna pelo novo ou a fuga constante. Quem sabe Paris ou Veneza possuam algumas irmãs bastardas! Não creio...Busco, busco e não encontro, vejo apenas imitações bonitas, mas longe de bater as mais belas.

O fato é que é magnífico fugir para qualquer lado, dentro ou fora do Brasil, pois o bom mesmo é sair da rotina de tempos em tempos, como Montaigne pregava...

Parabéns à minha esposa, autora do Mundo Anfitrião. Obrigado pela inigualável companhia nessa ruma de passeios. Viajemos, pois!
 
 
Newton Assunção

 

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