Em 2011 fizemos um tour pela Ásia. Como a viagem era longa, vários países e muitos voos, compramos alguns trechos aéreos em classe executiva.
Um desses trechos foi o voo Pequim - Bangkok, pela Thai Airways.
Como viajamos em executiva, tivemos acesso à Sala Vip do Aeroporto Internacional de Pequim.
Pois bem. Foi aí onde tudo começou.
Estávamos na sala vip, experimentando os canapés, sanduíches e bebidinhas quando entrou um senhor de traços asiáticos, em cadeira de rodas. Sua aparência era bem abatida.
Fiquei com pena. Para onde ele estaria indo? O que estaria fazendo em Pequim? Algum tratamento de saúde?
Passado algum tempo, fomos convidados a embarcar. Nos dirigimos para o portão de embarque e lá estava o velhinho. Iríamos no mesmo voo.
Entramos no avião e adorei tudo. A aeronave era novinha, a tripulação simpática e com lindos trajes típicos da Tailândia. Uma orquídea era o símbolo da companhia aérea.
Nosso voo teria duração de 4 horas.
Sentamos nas nossas poltronas e o senhor sentou duas fileiras à nossa frente, acompanhado de quem eu deduzi ser a esposa. Eles também iriam em classe executiva.
Tão logo o avião decolou a acompanhante do velhinho acionou a chamada de comissários. E eu, duas filas atrás, observando tudo.
A comissária atendeu ao chamado. Saiu e voltou, discretamente, com um balão de oxigênio. Ajudou a colocar no passageiro e sumiu.
Algum tempo depois, nova chamada. Dessa vez para devolver o balão. E eu, duas filas atrás, agradeci a Deus.
Foi servido o jantar (o voo era noturno). Tudo muito caprichado, cheios de detalhes, assim como os trajes da tripulação.
Após o jantar, tudo recolhido, hora ideal para um cochilo.
De repente, a acompanhante do velhinho levantou-se com cara de choro. Gelei. Nova chamada.
A mesma comissária atendeu ao chamado e saiu correndo. Veio, então, a chefe de cabine.
Pelos alto falantes foi solicitada a presença urgente de um médico. Apareceram dois.
Como em um passe de mágica, a classe executiva estava tomada de comissários. Já sem os lindos trajes. Todos descalços. Um deles trouxe novamente o balão de oxigênio. Outro, uma maleta de primeiros socorros. Um terceiro estendeu um cobertor no chão do corredor e colocou o passageiro enfermo. Um quarto comissário começou a fazer massagem cardíaca. E eu, duas filas atrás, assistindo à cena de camarote.
Em desespero, deixei de prestar atenção àquele filme e fiquei olhando para a janela. Meu marido, que estava no corredor, me passava os boletins médicos:
- O velhinho está da cor da minha calça jeans!
Uma senhora, que estava na classe econômica, se juntou a nós. Era a irmã do passageiro. Ajoelhou-se ao lado do meu marido e começou a fazer suas orações. Não sei em que língua, muito menos para qual santo.
Alguns comissários se revezavam na massagem cardíaca, enquanto outros tiravam fotos. Acredito que para comprovar que não houve omissão de socorro.
Passado algum tempo, apareceu o comandante. E se instalou ao lado do meu marido, local onde parecia ter sido eleito o ponto de encontro do voo.
Indagamos ao comandante se pousaríamos em algum lugar ou se seguiríamos viagem. Ele respondeu que os médicos iriam decidir. O que eles dissessem a Thai Airways iria acatar. E arcar com eventuais despesas de todos os passageiros. Mais uma estrelinha para a Thai no meu conceito.
Cerca de 40 longos minutos depois, fomos informados que seguiríamos viagem até o nosso destino. E nos convidaram para continuar o voo na primeira classe.
Passamos para a primeira classe. Poltronas enormes e um carrinho recheado de guloseimas à nossa espera, pois o serviço de bordo estava suspenso.
Eu na primeira classe. Pela primeira vez na vida. E a única vontade que eu tinha era de sair dali.
Não comi nada. Apenas rezei, pedindo aos meus santos que encaminhassem minhas preces a quem de direito, pois com certeza o velhinho não era católico.
Apareceu uma comissária. Aproveitei para perguntar sobre o velhinho. Ela disse que apesar de todos os esforços ele não havia resistido ao voo, informando ainda que havia deixado na executiva apenas os familiares do passageiro.
Finalmente o avião pousou. Corri para a porta. Mas não pude sair porque uma equipe médica estava a postos para entrar no avião. Com maca e roupas que mais pareciam de astronautas.
Eles entraram e se dirigiram à classe executiva.
Em seguida, fomos autorizados a sair. Fui a primeira. Único privilégio que usufrui na categoria mais top da companhia aérea.
Não olhei para os assentos da classe executiva. O que eu tinha presenciado já bastava.
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