sábado, 20 de setembro de 2014

PERRENGUE CANSATIVO EM MOSCOU


O Balé Nacional Russo esteve em Fortaleza esta semana, o que me fez lembrar de um pequeno perrengue que passamos em Moscou.

Viajamos para a capital russa em 2010, sem excursão, sem guia e sem falar russo, pelas terras gélidas dos czares.

Preparando o roteiro, cismei que queria assistir a um balé. Ir à Rússia e não ver um espetáculo de balé seria como ir a Roma e não ver o Papa.

Pesquisei e no período em que iríamos só havia óperas em cartaz. Nada de balé.

Quinze dias antes de viajar apareceram, nos sites que eu estava buscando, ingressos para o balé Bolshoi, para o espetáculo Dom Quixote. No Teatro do Kremlin, já que o Teatro Bolshoi estava em reforma.

Não hesitei e comprei os ingressos. E lá fomos nós passar frio na Rússia.

Na data do espetáculo, passeamos durante todo o dia e voltamos para o hotel apenas para trocar de roupa. O balé começaria às 19:00.

Saímos do hotel com alguma antecedência, e pegamos um táxi rumo ao Kremlin.

Ao pegar o táxi e soltarmos um “Good Evening”, sentimos logo que o motorista, a exemplo de boa parte da população russa, não falava inglês. E nós, como significativa parcela do povo brasileiro, não falávamos nada de russo.
 
Ingresso do balé

Mostramos os ingressos e, mímica vai, mímica vem, partimos.

O motorista nos deixou no Kremlin, prédio gigantesco que, segundo o Wikipedia, tem 24.000 metros quadrados.

Lépidos e fagueiros, fomos até a primeira portaria que encontramos, a poucos passos. Entregamos nossos ingressos para um guarda, que tampouco falava inglês. Ele viu nossas entradas e começou a fazer gestos, que para bom entendedor significavam “do outro lado”.

Claro, do outro lado. De um prédio de 24.000 metros quadrados. Nosso taxista, óbvio, já havia sumido. A noite caía e o frio aumentava.

Começamos a caminhar, depois de um dia exaustivo, e com sobretudos bem pesados. Havia a esperança de nos depararmos com alguma entrada logo que dobrássemos a esquina.

Viramos a esquina e nada. Apenas um muro gigantesco. E o tempo passando. Meu irmão, o detentor de mais fôlego do grupo, começou a correr. Depois começamos a correr atrás dele. E nenhuma portinha aparecia por entre as saliências da muralha.

Depois de mais de 40 minutos entre caminhada e corrida, avistamos grandes portões. Não era miragem. Era ali. Entramos e os portões foram trancados atrás de nós. Ou seja, mais um minuto e todo o esforço teria sido em vão.

O espetáculo, claro, já havia começado. Apresentamos nossos ingressos e fomos encaminhados para umas cadeiras na lateral do teatro. Só poderíamos ir para nossos assentos após o intervalo.

Sentamos nas confortáveis poltronas do Teatro do Kremlin. Luzes apagadas e refletores apenas no palco, onde bailarinos faziam jus à fama de melhor corpo de balé do mundo.

Uma música calma conduzia os artistas. Na plateia, nós, turistas brasileiros exaustos.

Não preciso dizer que, 10 minutos depois, meus companheiros de viagem contribuíram para a orquestra, com sons agudos de roncos.

Não me juntei ao coro. Mais do que qualquer outra coisa, o medo de sermos expulsos do teatro me fez apreciar, atenta e silenciosamente, tão bela arte.

   

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